No dia 21 de Setembro de 2014 aconteceu a estreia do projeto Samba na Roda da Saia. Trata-se de uma banda composta apenas por mulheres, desde a idealização, por conta da produtora cultural Rosane Pires, até a formação da harmonia musical, da percussão e dos vocais. O grupo se reúne em bares e espaços culturais da cidade para fazer e pensar o Samba mineiro, apresentando músicas consagradas no cancioneiro brasileiro, de Jovelina Pérola Negra a Fabiana Cozza, passando por Clara Nunes, Mart’nália, Clementina de Jesus, Leci Brandão e as centenas de nomes femininos de peso que temos na história do Samba no país.

A proposta do projeto, de acordo com Rosane – à frente da Aláfia Cultura – é desmitificar a ideia de que o Samba é um espaço masculino e que às mulheres cabem os papeis coadjuvantes, tanto no ritmo quanto na vida. Um espaço de protagonismo feminino negro, as mulheres desse grupo já têm, cada uma, longa carreira na música mineira e brasileira. Algumas com formações autodidatas, outras tendo passado por espaços formadores de músicos de Belo Horizonte e Região Metropolitana, não deixando em absoluto nenhuma lacuna para que os homens, incomodados que sempre ficam com a autonomia feminina, possam apontar dedos para falhas ou imperfeições.

Todo o sentimento, força, alegria, poesia e malemolência que o Samba precisa, tão característicos do povo preto, transborda dessas mulheres. E afinal, espaços negros de arte, resistência e religiosidade vêm sendo historicamente liderados por mulheres, porque então o Samba contemporâneo de Minas Gerais não poderia ser?

Até por que, não é a toa que a roda de Samba é redonda como redonda é a saia das sambadeiras. Sem essencializar o que é feminino e o que é masculino – afinal de contas, ser mulher muda de acordo com diversos critérios sócio-históricos – esse Samba vem com a força das mulheres pretas e periféricas do nosso tempo, com toda sua inventividade, criatividade e resiliência, sem perder a malandragem do Samba feito e vivido por homens e mulheres há décadas, mas propagandeado como exclusivamente deles. Essas mulheres vivem do Samba e para o Samba, e vieram para ficar, com todo o amor visceral que a vida nos exige todos os dias.